30 de abril de 2018

O barulho que há em mim


Pensei que o barulho tinha terminado e que o silêncio iria finalmente reinar. 
Estava deitada no sofá a saborear o tão desejado dolce far niente quando ouvi a campainha tocar.
Decidi fingir que não tinha ouvido, esperançosa de que o silêncio não fosse mais interrompido.
Acreditei ou tentei acreditar que podia evitar o despertar de mais um barulho em mim.
Estava enganada.
Fechei todas as portas e janelas, escondi-me no meu refúgio e ainda assim o barulho reencontrou-me.
Outra vez, não.
Será que algum dia terá fim?
Quero o rotineiro silêncio, nem que depois tenha de cantar à desgarrada para lhe dar vida, mas quero essa paz em mim.
Quero tranquilidade, de uma vez por todas.
Quero em mim a melodia do silêncio.


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9 de abril de 2018

A hora certa

Tudo tem a sua hora, mesmo fora de horas.
O momento chega sempre, mesmo quando pensamos que nunca vai chegar. 
Nada tem uma hora certa ou deixa de ser possível por causa da hora.
Se a hora é mais adiantada e já não podemos correr, vamos andando mas sem deixar de acompanhar.
Não temos o poder de controlar o relógio, mas o relógio também não tem o poder de nos controlar.
Nada acontece quando desejamos que aconteça, mas sim quando os ponteiros se alinham em nós.
Cada um tem o seu pequeno relógio - diferente de todos os outros - o que importa é não acertar esse relógio pela hora que não é a nossa.

Sempre fora de horas nos olhos alheios, mas sempre na hora certa no coração que nunca bate no momento errado.

Está na hora de ser quem és e de encontrar na diferença o despertar para a vida.

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Está também na hora de aos poucos retomar este caminho rumo a mim. 
Obrigada a quem por aqui continuou a passar e a deixar um pouco de si.

16 de dezembro de 2017

As portas que temos em nós

Quando estou fora não há relógio nem calendário, 
não há notícias nem qualquer diversão, 
há só tempo sem tempo que corre por correr e sem se fazer notar.
Quando chego a casa é o reconforto de nada ter mudado, mas de tudo ter outro sentido, que me faz acreditar que somos o lugar onde vivemos e as pessoas que amamos.
Somos tudo o que está fora, mas dentro. 
Somos tudo o que consegue destrancar as portas que temos em nós. 
Muitos abrem a primeira porta e desistem, poucos se interessam em conhecer o que está atrás de cada uma delas.
Todos somos mais do que a porta visível num relance de olhos, todos temos portas escondidas que só quem quer conhecer consegue encontrar.

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15 de novembro de 2017

Desapego das memórias


Quantas vezes quiseste que o presente fosse tal qual o passado?
E nessas vezes lembraste-te de quem hoje és e outrora não eras?

Há uma constante e imparável mudança a acontecer em nós, dia após dia.
Chega de idolatrar o passado como se fosse um sonho e de rejeitar o futuro como se de um pesadelo se tratasse.
Chega de castigar o que poderá acontecer por causa do que anteriormente aconteceu.
Reviver é o consolo de quem não quer descobrir que pode ser mais feliz do que fora toda a sua vida.
Dá ao hoje e ao amanhã a oportunidade de te surpreenderem. 
Para ser feliz vale sempre a pena correr o risco.
Liberta-te do passado e prende-te ao presente.
Esquece a caixa de memórias que guardas como relíquia, lembra-te de que a vida se vive no agora e que não há bem mais precioso do que ela.


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8 de novembro de 2017

Ao teu redor


Um dia chuvoso e cinzento não impossibilita que o amanhã seja soalheiro e colorido.
A chuva que lava a estrada é o que a prepara para o que está para vir.
Segue a tua estrada e mesmo sozinho não te sentirás só, tens a imensidão da natureza que te criou, tens a imensidão do mundo por descobrir.
As flores timidamente sorriem para ti, presta atenção.
O verde dos campos pode encher a tua alma de esperança, se parares um pouco para os admirar.
O que nos rodeia tem um sentido, se o soubermos ver.
Ao teu redor há um bom motivo para continuar,
 algures por aí está o melhor de ti.

O destino é um novo e melhor dia e a estrada a seguir é sempre aquela que te leva rumo a ti.

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3 de novembro de 2017

Seria bom não sentir


Tem dias em que só desejo não sentir, não ter qualquer emoção em mim.
De que matéria terei eu sido feita para sentir sempre demais?
Olho para o lado e vejo indiferença, vejo insensibilidade, vejo tudo na mesma.
Não preciso de olhar para mim, para ver a diferença. 
Sinto as lágrimas, sinto o corpo tremer, sinto o abalo em mim.
Não é dramatismo ou talvez seja, mas o meu problema não é dramatizar. 
O meu problema é sentir tudo de modo tão intenso que o meu mundo se resume ao que sinto.
Como seria bom poder sorrir diante da tristeza, poder andar diante da queda, poder continuar diante do fim. 
Como seria bom não sentir tanto assim.


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